segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Testado e aprovado #2

Como relatei aqui, as minhas experiências com cabeleireiros nunca foram as melhores. Quando penso em escovas, no cheirinho a químicos e ar quente, nas conversas de salão (melhor, conversas de mal dizer de primeira!) e do aterrador secador tipo capacete (os pesadelos que eu tenho com aquilo) até sinto uns calafrios, depois uns calores, assim tipo cólicas, não sei se estão a ver (ou a sentir!).

Algumas lembranças que tenho destes belos espaços são aterradoras, outras hilariantes, o que vale é que, à distância, vou vendo as coisas com sentido de humor e é mesmo só para rir: ora o lanchinho que levava pois já sabia que, entrando no cabeleireiro às 9h, só de lá iria sair pelas 15h (e não pensem que era tudo em cuidados com os meus cabelos, nãããooo - o problema era a lentidão, as conversas que se metiam pelo meio ou até outras clientes, deixando-me pendurada! E eu, pobrezita, com medo de sair de lá careca com alguma cabeleireira ressabiada, ficava era caladinha a suportar aquilo tudo; como não conhecia outro espaço...). Ou então o tal caso que relatei da cabeleireira que me contava a vida dela, quando se lhe sai algo do género "Não percebo nada disto de cabelos, mas tenho duas licenciaturas e cá vou ocupando o tempo enquanto não arranjo coisa melhor" (pronto, admito que ela não tenha sido tão radical com as palavras, mas, independentemente disso, resumindo vai dar ao mesmo). Também há pelo meio todo o submundo de "cabeleireiros" (até me custa classificar certas pessoas/estabelecimentos como tal) do  Martim Moniz e arredores que me deixaram a cabeça numa lástima de crostas! Enfim, como podem verificar, eu poderia escrever com a Ana Maria Magalhães e a Isabel Alçada vários livros da colecção "Uma Aventura...", mas em versão cabeleireiros: já imagino os títulos Uma Aventura na cave do Centro Comercial da Mouraria, Uma Aventura dos caracóis desaparecidos, Uma Aventura pelas crostas da minha cabeça!

Depois desta minha explicação, devem compreender a minha fobia e ansiedade de cada vez que penso que tenho que ir a um cabeleireiro, nem que seja para cortar umas simples pontas: é que nunca é um corte de umas simples pontas. Contudo, desta vez não dava para adiar mais. Já deixei fotografias aqui no blogue e dá para perceber que as pontas, ainda com restos de relaxamento, estavam muito estragadas, pelo que não havia volta a dar. Mas onde ir, se a minha cabeleireira de confiança de tantos anos me deixara só e abandonada às mãos de uma licenciada aniquiladora de cabeças? Andei pela Internet em busca de opiniões sobre cabeleireiros que trabalhem minimamente (já nem peço muito) bem com cabelos crespos e nada. Há todo um silêncio em torno desta temática. Onde andam as lindas encaracoladas e crespas deste país? O que me valeu foi um dia de tédio em frente à televisão: em busca de algo para ver, passei por um canal brasileiro (Record, será?) onde dava um anúncio. Reparei nos cabelos arranjados e, na altura em que elas diziam o nome do cabeleireiro, o meu dedo, automatizado para carregar no botão do comando em busca de algo interessante para ver, fez com que mudasse de canal. Andei tentei voltar atrás a tempo de ver a morada, mas já não consegui. Ora que por algum motivo estamos na era da informação, pelo que toca a procurar na Internet algo sobre o "Carapinha Chic" (sim, o nome é um pouco piroso, mas lá que chama a atenção chama).

Enchi-me de coragem e lá fui eu, sem grandes expectativas de milagres, mas pelo menos com alguma esperança que soubessem minimamente (lá está) arranjar o meu cabelo: se forem especialistas em carapinhas, então o meu até é um pouco menos temperamental. Posso dizer que, logo que entrei, o ambiente do espaço me apagou de imediato as memórias do submundo capilar do Martim Moniz. Sem dúvida que tem uma decoração agradável, uma boa projecção e ordenação das áreas de trabalho, excelente iluminação e, top dos tops, as cadeiras de massagem no espaço de lavagem das cabeças (se esta para mim também era uma zona crítica - as dores com que ficava na nuca! - neste espaço nunca mais terei que me preocupar). O melhor de tudo, contudo, ainda estava para vir. Se antes tive quase sempre a sensação que estava nas mãos de aprendizes ou nem isso, desta vez a simpática senhora que me atendeu revelou-se uma profissional à altura. Com ela, pela primeira vez, tive um verdadeiro diagnóstico feito ao meu cabelo com as sugestões das melhores soluções, deixando-me escolher a que eu também considerasse mais adequada. Com ela falei de queratina, de raízes, de cutículas abertas, dos detergentes do champô, da importância de se usar correctamente uma máscara. Com ela consegui ver o potencial do meu cabelo. Com ela senti um verdadeiro respeito pelas minhas raízes! Por outro lado, com ela também falei da vida e das distâncias e do estar longe da nossa casa e do tempo e do Alentejo e do Brasil e blá, blá, blá... dos tudos e nadas que fizeram com que aquele momento no cabeleireiro passasse num instante quando para mim tudo me parecia uma eternidade anteriormente. E a isto se chama profissionalismo de alta qualidade. 

Não posso dizer que seja um espaço barato, só que, em jeito de conclusão, saí do "Carapinha Chic" a pensar que prefiro gastar mais dinheiro a fazer bem, neste caso num tratamento para os meus cabelos (fiz uma hidratação profunda, seguida de corte), do que gastar menos dinheiro a fazer mal ao meu cabelo com relaxamentos e afins. Parabéns a toda a equipa do "Carapinha Chic" e obrigada pela definição que deram às minhas espirais.

Avenida Almirante Reis, nº 60
Lisboa

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