sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Pelas colinas do meu cabelo: mais uma biografia

A minha história será como tantas outras. Mas muitas dessas histórias são vivenciadas isoladamente e quando há uma partilha de sentimentos, de frustrações e alegrias, tudo parece mais leve. Afinal, há mais gente neste sobe e desce pelas colinas de experiências quando se tem um cabelo que é caracterizado como difícil de domar. Só que o problema não está nele, o problema está em nós e na nossa falta de conhecimento relativamente aos tratamentos para estes cabelos tão frágeis, mas exigentes, devido a uma sociedade que impõe um estereótipo em torno da beleza e sofisticação do cabelo liso.

Quem é que não quer pertencer a um grupo padrão? Quem é que não deseja ser alvo de elogios? Desde pequenas somos bombardeadas com imagens na televisão, nas revistas, até na própria forma de brincar, através das nossas bonecas, da figura feminina a tomar todas as providências para conseguir um liso sedoso, com promessas de mil e um tratamentos eficazes. Claro está, eu não fui excepção alimentando o sonho de ter um cabelo liso bem solto ao vento. Mas isso seria negar toda a minha natureza, não era?

Pois bem, sendo filha de Mãe branca e Pai negro eu saí a mistura natural que é de se esperar. E o meu cabelo não fugiu à regra, sendo, durante muito tempo, uma indefinição de primeira. Antes de entrar para a Primária, o meu cabelo era feito de caracóis bem largos, lindos e fortes. No entanto, depois de um corte de cabelo (que muito incomodou a minha Mãe e parecia ter razão), o meu cabelo perdeu a definição dos caracóis e começou a assemelhar-se mais a uma juba! E o remédio era ir cortando cada vez mais, já que a minha querida Mãe (embora tentando fazer o melhor que pudesse), não sabia o que fazer com este tipo de cabelo. E, claro está, Paizão muito menos... por ser homem! Desta forma, passei os meus anos de Primária com o cabelo à rapaz e, embora não tenha muitas recordações sobre o efeito que o meu cabelo na altura tinha em mim, talvez por isso tenha hoje aversão a cortes muito radicais.

Entretanto, não sei precisar quando, nem com que idade, lembro-me de a minha Mãe comprar o desfrisante Glatt. Eu estava com tantas expectativas que recordo estar na Escola a beber água do bebedouro e pensar que depois de desfrisar já iria ter o cabelo a cair-me pela cara abaixo, pelo que teria que o segurar da próxima vez que usasse o bebedouro (como era sonhadora!!!). Até para as minhas colegas dizia que o meu cabelo já ia "abanar" (sim, pois eu tinha o cabelo bem armado). Só que... o resultado não foi o esperado: o cabelo ficou caído, ah pois ficou, mas duro, sem vida, com frizz, muito volumoso... numa palavra, horrível! Para minimizar o estrago, a minha Mãe, coitada, pensou em cortar o cabelo na zona da nuca e um pouco mais acima para que não ficasse volumoso. Ou seja, se desse vento, a parte de cima levantava e via-se a carecada por baixo. E aí lembro-me de ter chorado pela primeira vez (se calhar até chorei antes, mas não me lembro)! Que sina! O remédio foi passar a usá-lo.... tcham, tcham, tcham...adivinhem... (as cacheadas/crespas desse lado sabem bem o que vem a seguir) ...amarrado, pois claro! Pronto, e passei a ser especialista numa infinidade de elásticos e bandoletes (ainda bem que até era moda, senão estava tramada!), de todas as cores e feitios, sempre com o cabelo bem amarradinho, sem variações no penteado. Uma colega até observou um dia que eu tinha sempre o cabelo igual, assim amarrado, e eu, para me defender, disse que ela também, com o dela sempre solto!!!

Até que, por volta dos meus 13/14 anos, tive uma vizinha brasileira (as brasileiras são a minha salvação, ainda hoje!!) que também tinha o cabelo como todos apelidam de "difícil", sendo ela a mostrar-me todos os meandros do universo dos cabelos crespos/encaracolados/cacheados. Eu nem sabia que existiam cabeleireiros afro, vejam só! E lá fui a um recomendado por ela, no Martim Moniz. Posso-vos dizer que o cabelo até não saiu muito mau, pior foi o estado em que ficou a minha cabeça: cheia de crostas e com muito ardor. Ao colocarem-me o creme até me corria uma lagrimita pela cara abaixo. Eu nunca consegui ver o estado da minha cabeça, como é óbvio, mas ao chegar a casa, só vi o esforço que a minha Mãe fez para não mostrar o pânico. Pus a cabeça debaixo de água e ali fiquei um bom bocado para aliviar a sensação de queimadura. Não sei se estará relacionado ou não, o que é certo é que deixei de ter muita sensibilidade no couro cabeludo e, quando ia aos cabeleireiros, perguntando-me estes se sentia a cabeça a arder, eu respondia sempre que não. Pelo que passei a avisar que não deixassem o produto durante muito tempo para não haver nova tragédia.

Experiência aterradora passada, não voltei a pôr os pés num cabeleireiro afro durante muito tempo. Essa minha vizinha também insatisfeita com a falta de bons e verdadeiros cabeleireiros afro em Portugal (sejamos sinceros, muitos nem têm curso sequer), decidiu experimentar uma permanente sem ser num salão supostamente especializado nos nossos cabelos. O resultado foi muito bom; o cabelo dela ficou com uns caracóis lindos e eu decidi experimentar. O problema é que cada cabelo é único, é como o B.I., e logo que o cabeleireiro avaliou o meu disse que era muito diferente do da minha vizinha: estava muito estragado, com muito frizz e sem definição, por isso não poderia garantir os mesmos resultados. Decidi na mesma avançar e não podia ter corrido melhor. O meu cabelo ficou lindo, com uma ondulação bem definida, sendo, durante algum tempo, o tratamento que fazia no meu cabelo. Durante esse período recebi vários elogios.

Só que o ditado diz "não há mal que sempre dure", no entanto, no meu caso foi ao contrário: a vizinha deixou de ser vizinha e perdi-lhe o rasto e o cabeleireiro onde ia fechou. E agora???? Tantos anos à procura de um cabeleireiro com quem me desse bem e num segundo vai tudo por água abaixo. Novas experiências? Novas queimaduras? Novos corre-corre em busca do tratamento ideal para o meu cabelo? Só sei que, por milagre, numa ida a uma loja para comprar os meus cremes maravilha, a rapariga que estava ao balcão, mulata como eu, tinha um cabelo muito bem cuidado. Perdi a vergonha e perguntei-lhe o que é que ela fazia ao cabelo e onde, ao que me respondeu que fazia uma abertura do caracol (descobri agora  nas minhas andanças por blogues, como o da Rayza, que se dá a esta técnica o nome de relaxamento, pelo menos no Brasil) ali mesmo num cabeleireiro ao lado. Et voilà, desde há cerca de 15 anos que o meu cabelo tem passado por sucessivos relaxamentos, uns mais espaçados do que outros, sempre com bons resultados no cabelo. Mas a obrigação de ir ao cabeleireiro, o passar horas a fio lá, com químicos na cabeça, secadores, rolos, era um verdadeiro martírio para mim. Que outra solução tinha eu, se queria manter o meu cabelo? Quando deixava espaçar demais a raiz começava logo a aparecer, achando-a feia.

Parecia que tinha encontrado a solução para a vida, quando tive que deixar a minha linda Lisboa, passando a morar num sítio onde cabeleireiros afro não faziam parte do vocabulário corrente da população. Só quando regressava a Lisboa conseguia dar um saltinho no cabeleireiro para manter os meus cabelos. Passei a  notar, no entanto, que ele estava a mudar, principalmente, depois de umas madeixas loiras que fiz. Aquela ondulação e caracóis marcados estavam a desaparecer e a ficar um pouco mais lisos, mas um liso pesado, estragado. Por fim (que este texto já vai longo e provavelmente já estão a dormir desse lado), as duas últimas idas ao cabeleireiro foram determinantes para esta minha vontade de valorizar o meu cabelo natural. A primeira situação foi o choque que apanhei ao não encontrar a minha cabeleireira preferida do salão, tendo obtido a informação que ela provavelmente não voltaria à profissão por questões de saúde. Tive que ser atendida por outra rapariga que, ao longo da conversa, me disse que tinha duas Licenciaturas, mas por não encontrar trabalho na área estava ali. E formação na área de cabelo, perguntei eu preocupada. Nenhuma, mas muito interesse em aprender. Vi a minha vida a andar para trás... Lá saí até satisfeita com o aspecto do cabelo, contudo, no dia seguinte acordei com uma sensação estranha na nuca e, ao passar a mão, parecia que tinha crostas e cabelo agarrado. Deu para perceber que a rapariga não passou bem por água nessa zona (e será que usou neutralizante suficiente?), deixando a zona muito frágil. Claro que fui reclamar, mas o mal já estava feito. Decidi nunca mais voltar ao cabeleireiro onde fora tão feliz (enquanto lá estava não, depois os resultados é que compensavam!) e lá fui tentar outro. Mais uma vez deparei-me com pessoas que não parecem ter grandes conhecimentos daquilo que estão a fazer, colocando apenas cremes na cabeça e pronto. Cansada de tanta incompetência, de tanto desalento e pelas forças da circunstância de estar longe, o que não me permite ir ao cabeleireiro com regularidade, decidi experimentar não fazer mais químicas durante uns tempos, nem que seja para conhecer o meu verdadeiro cabelo.

Neste momento, já estou há 8 meses sem qualquer tratamento, portanto aquilo que chamam de transicção. Já está com a raiz bastante acentuada, embora esse crescimentos da raiz não se reflicta em termos de crescimento geral do cabelo  (ele parte muito e nunca passa muito da altura dos ombros). As pontas estão sem vida, indefinidas, por isso mesmo tenho dias de stress e ataques de neura, sem saber o que lhe fazer. Mas apanhá-lo nunca, lá lhe dou um jeito e deixo-o sempre solto. Experimento mil e um produtos para tentar a sorte, mil e uma técnicas para ver se acerto, aguardando para perceber se conseguirei alguma vez tê-lo ao meu gosto.

É neste estado das coisas que chego aqui, a uma busca, através da partilha neste blogue, de soluções adequadas para mim que, até, possam servir a mais alguém. Tenho feito muitas leituras e descobertas, algumas das experiências já feitas têm ajudado, outras nem tanto. Como estou um bocado confusa com isto tudo, preciso de sistematizar e acabar por fazer as minhas escolhas, porque como já dizia acima cada cabelo é único. Espero que os altos e baixos não sejam muitos, se forem como as colinas de Lisboa (que são aceitáveis) estou pronta para o desafio.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

O início de uma caminhada

Nestes últimos meses, desde que descobri os vídeos da Rayza Nicácio no Youtube, percebi que, em 34 anos de vida (até me custa dizer a idade, sinto-me com 18!!), nunca soube tratar realmente do meu cabelo. Agora estou numa fase de descoberta, de uau constante com o que vou aprendendo aqui e ali neste universo da Internet. Esta caminhada até de auto-descoberta não tem sido, contudo, fácil: ora descubro que determinada dica funciona no meu cabelo, ora no dia seguinte ele, com a sua personalidade própria, parece que já não responde a nenhum tratamento de choque e só não pego na tesoura porque o trauma de ter vivido anos a fio com o cabelo amarrado ainda me persegue.

Em espécie de diário para apoio moral, decidi deixar aqui mais um testemunho com este meu blogue, já que me apercebi que ainda há muita gente que, como eu, não sabia, não sabe ainda, mas espera saber como cuidar dos seus cabelos crespos/encaracolados/ondulados. Milagres sei que não os há, mas já vi mudanças maravilhosas em cabelos muito estragados, tipo de Gata Borralheira para Cinderela! E porque não conseguirei eu também? Desta forma, aqui deixarei as minhas tentativas, experiências, as minhas frustrações e, espero, as minhas vitórias, partilhando e trocando opiniões e sugestões com quem também quiser embarcar nesta aventura . Afinal, crespas, cacheadas, encaracoladas e onduladas, temos que nos unir na desmistificação da imagem que mulher com cabelo liso é mais bonita e feminina!


segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Nas colinas dos meus caracóis

Teste, teste, 1,2... 1,2... Aqui e com os meus cabelos. A seu tempo o testemunho.

Foto: Dr. Prem's

Um olá a todas as Mulheres, especialmente as crespas, cacheadas e onduladas!